RESIST lamenta falecimento e lembra legado da pesquisadora Margarida Barreto neste 8 de março
A Rede de Estudos Interdisciplinares Sobre Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina, RESIST-UFSC, manifesta seu profundo pesar pelo falecimento, no último dia 3 de março, da pesquisadora, professora e médica do trabalho Margarida Maria Silveira Barreto. Perdemos, todas/os, uma grande referência internacional nas investigações sobre assédio moral e sexual no trabalho, temas nos quais seu esforço de conceituação e denúncia foi pioneiro no Brasil. Perdemos uma referência de postura e luta que falava de forma enfática e cristalina sobre as inseguranças das trabalhadoras e dos trabalhadores e das tentativas de torná-los subservientes.
Integrantes da RESIST estarrecemo-nos frente a esta triste notícia, recebida em meio a uma reunião da rede. Solidarizamo-nos com familiares e amigas/os que sentem a sua perda. Ao mesmo tempo, temos o entendimento de que honrá-la é lhe render homenagens, difundir seu legado e seguir trabalhos por ela inspirados, o que nos motiva a recordar algumas destas contribuições. Parece oportuno fazê-lo em um dia de luta das mulheres trabalhadoras, o 8 de março, em cuja história o legado de Margarida certamente integra com importância central. Seu trabalho sedimenta, nada menos, do que os estabelecimento de limites à exploração do trabalho, tanto por delimitar o que se entende pelo fenômeno do assédio laboral, como por atuar na criação e apoio de meios para que fosse visibilizado e enfrentado, considerando os seus determinantes sociais.
As coordenadoras da rede que redigem esta nota tiveram tempo e graus de proximidade com Margarida Barreto muito distintos. Como para nós, sabemos que para tantos/as do meio acadêmico e sindical do país, Margarida é nome incontornável quando se trata em discutir e interpretar questões de saúde no trabalho, sobretudo as relacionadas a assédios moral e sexual e à forma pela qual empregadores contribuem com sua perpetuação ao negligenciá-los. Teve, também, relevante papel na identificação de formas de adoecimento mais recorrentes em mulheres, incorporando reflexões sobre como estavam relacionadas com a problemática de gênero e da divisão sexual do trabalho. No mínimo fonte bibliográfica e nome recorrentemente mencionado em praticamente todo debate que se fizesse sobre tais temas, orientou pesquisas, formou gerações de estudantes, professoras/es, profissionais técnicas/os e lideranças sindicais.
Sua colaboração de mais de uma década com o NEPPOT, O Núcleo de Estudos de Processos Psicossociais e de Saúde nas Organizações e no Trabalho, da UFSC, consolidou relações não somente de colaboração em pesquisas, mas de amizade e parceria. Se Ela encantou nossos ouvidos nas mesas de conferências, minicursos, mesas redondas, ela também assistiu e debateu nossos trabalhos e coordenou afetuosamente diversas rodas de conversas com trabalhadores que sofriam com assédios, discriminações ou adoecimentos. Margarida Barreto constava na programação da quarta edição do VII Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho & III Congresso sobre Riscos Psicossociais e Saúde nas Organizações e no Trabalho a (2022), promovidos por este Núcleo – o que só fez agravar o sentimento de sua precoce perda. A esperança da melhora de seu quadro de saúde criava a expectativa de continuidade de sua consistente contribuição e do privilégio da sua presença.
Caracterizada de forma justa como lutadora incansável pela ciência e pela saúde no ambiente de trabalho no Brasil, Margarida Barreto segue viva em todas/os nós que somamos esforços em direção a este mesmo horizonte. Em suas palavras que emprestamos, “Combater a violência é uma longa luta. Mas aprendemos que a única luta que se perde é aquela que se abandona”.
E esta luta sempre foi uma prática coerente na sua vida e que segue árdua para todas e todos que têm como propósito o trabalho digno e os direitos humanos. O fenômeno do assédio moral e sexual, o problema dos adoecimentos no local de trabalho, apesar das denúncias e avanços institucionais no que se refere ao seu enfrentamento, seguem sendo um tema “na ordem do dia”, em torno do qual as a negligência patronal se ampliou em anos recentes, de destruição progressiva de direitos em razão das reformas trabalhistas. Que mais gerações sigam aprendendo com seu legado e defendendo, como fez esta mulher, os direitos das mulheres trabalhadoras e da classe trabalhadora em seu conjunto. Margarida Presente!!
Florianópolis, 8 de março de 2022.
Suzana Tolfo, fundadora e Sub-coordenadora do Núcleo de Estudos de Processos Psicossociais e de Saúde nas Organizações e no Trabalho da UFSC, o NEPPOT.
Thaís Lapa, coordenadora do Laboratório de Sociologia do Trabalho da UFSC, o LASTRO.
Ambas pela coordenação da RESIST
Conheça um pouco mais sobre Margarida Barreto por meio de materiais que são referências para nossas pesquisas:
Artigo “Engendrando gênero na compreensão das Lesões por esforços repetitivos”; escrito em co-autoria com Eleonora Menicucci (1997). Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/YDLCgckTCYHCMGgHb7tx4Wm/?lang=pt (indicação de Thaís).
Visite o site www.neppot.ufsc.br. Lá encontrarão capítulos de livros , bem como vídeos e registros da sua participação em atividades conjuntas.